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Descubra os Zoelas

 

Quem foram os Zoelas?

Zoelas (ou Zelas). Etnia localizável no Nordeste Transmontano. A etimologia do etnónimo é difícil de estabelecer, ainda que, recentemente, se tenha sugerido uma evolução a partir da forma indo-europeia *dyw-elo ‘pequeno ou jovem deus (celeste)’, por intermédio de dialecto não-celta da área meridional ásture. A integração no grupo dos Ástures Augustanos é afirmada por fontes literárias antigas e confirmada por documentação epigráfica. A célebre Tabula de Astorga (CIL II 2633) é fonte fundamental para a discussão da organização social deste povo. O texto consta de duas partes distintas: na primeira, referente a 27 d. C., regista-se a renovação de um antigo pacto de hospitalidade entre duas *gentilitates (Desonci e Tridiaui), ambas integradas na gens Zoelarum; na segunda, correspondente a 152 d. C., data absoluta do documento, alarga-se o pacto a três indivíduos pertencentes a outras unidades organizativas designadas por *gentes (Auolgigi, Visaligi e Cabruagenigi), duas das quais integradas nos Zoelae e a terceira nos Orniaci. Todavia, em face da utilização dos termos gentilitas e gens em ambas as partes do texto, continua aberta a discussão acerca da natureza destas unidades, oscilando basicamente entre o seu carácter parental (fictício) ou político. Admitindo este último ponto de vista, tem vindo a ser aceite que, entre os dois momentos assinalados, se terá dado uma evolução fundamental em termos de organização político-administrativa. Partindo de uma comunidade política designada gens Zoelarum, regida por um magistratus, e que teria um hipotético lugar central, Curunda (não necessariamente coincidente com a capital), ter-se ia chegado ao modelo baseado na *civitas. Apesar de se ter proposto a identificação daquela localidade zoela com Rabanales de Aliste, tal relação não está confirmada. É possível que esta evolução se tenha processado no tempo de Cláudio, a quem foi dedicada a inscrição honorífica existente em Gostei, nas cercanias de Bragança. Testemunhos de delimitação territorial entre zonas militares (prata) e civitates do conventus de Asturica Augusta (Astorga) também o indiciam. A depressão de Bragança seria a área nuclear dos Zoelas e apontou-se a sua capital em Castro de Avelãs, onde se identificou um altar votivo, com a consagração Aerno, dedicado pelo Ordo Zoelarum. Nas ruínas da Torre Velha de Castro de Avelãs, onde, nos finais do séc. XIX, se realizaram escavações, exumaram-se diversas estruturas arquitectónicas, entre as quais o que pode ter sido um templo. Intervenções recentes, no centro histórico de Bragança, identificaram extensos vestígios de época romana, com destaque para os restos de uma edificação porticada, cuja cronologia se situará entre os meados do séc. I e as primeiras décadas do II, altura em que terá sido desmantelada, não se descartando a sua relação com um assentamento militar. Os vestígios encontrados, pela amplitude da sua dispersão, extensível à colina da Cidadela (cuja ocupação terá, porventura, raiz pré-romana), podem conjecturar-se como correspondentes a um aglomerado que terá beneficiado da passagem da via XVII do Itinerário de Antonino, se não da eventual presença de um posto militar. Os dados arqueológicos são ainda insuficientes para se aquilatar do papel de cada um destes núcleos de povoamento quase contíguos, mas a informação epigráfica confere preponderância à Torre Velha em termos de atribuição da capitalidade política, onde, aliás, se reuniriam os dois ramais da via XVII, que se confirma terem existido entre Aquae Flaviae (*Chaves) e a região de Bragança. Apesar das dificuldades que a questão encerra, é possível sustentar que tenha existido na depressão bragançana a *mansio de Roboretum. A ciuitas dos Zoelas abrangia, possivelmente, também uma franja da actual província de Zamora. A ocidente, o seu limite passaria pelas serras da Coroa, da Nogueira e de Bornes, constituindo esta a sua fronteira meridional. A nascente, correria pelo vale encaixado do Douro, prolongado pelo curso final do Esla. A norte, limitaria pelas serras da Culebra e da Segundera. Na época suévica, o *pagus Brigantia, mencionado no *Parochiale Suevum, pode ter tido origem nesta ciuitas. A divindade nacional do povo zoela seria Aerno, com testemunhos epigráficos em Castro de Avelãs e na vertente setentrional da serra de Bornes. *Plínio refere-se ao linho dos Zoelas e à sua excepcional qualidade.



REDENTOR, A. (2012) – s . v. Zoelas (ou Zelas). In: ALARCÃO, J.; BARROCA, M., dir. – Dicionário de Arqueologia Portuguesa. Porto: Figueirinhas.





Situada perto da cidade de Bragança, a pequena aldeia de Castro de Avelãs tem ganho extrema notoriedade no domínio da Arqueologia. Isto porque na zona da Torre Velha/Terras de São Sebastião foram descobertos vestígios arqueológicos (sobretudo de natureza epigráfica) aparentemente relacionáveis com o povo Zoela. Com efeito, desde as escavações realizadas em finais do séc. XIX, sob direção de José Henriques Pinheiro, diversos investigadores têm identificado e proposto este local como a possível capital de civitas (circunscrição administrativa romana) deste povo de origem pré-romana. Neste momento, no quadro de um protocolo assinado entre a Câmara Municipal de Bragança e a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, uma equipa de investigadores, coordenada por Pedro C. Carvalho (professor da FLUC) e Clara André (arqueóloga do município) e constituída por alunos de Arqueologia da Universidade de Coimbra, têm trabalhado no terreno com a intenção de encontrar mais vestígios, por forma a conhecer melhor este importante povo pré-romano e romano que dominaria boa parte do território atualmente transmontano.

Local da descoberta?

Escavações Arqueológicas Torre Velha

As escavações arqueológicas estão a ser desenvolvidas por docentes e discentes da Universidade de Coimbra na zona da Torre Velha, Castro de Avelãs, Bragança.

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